sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

FELIZ ANO NOVO


Aos combatentes de Avintes e suas famílias e a todos os que nos visitam, desejamos um Feliz Ano. Queremos que tenhais em mente que, por penosa que seja a vida no ano que se aproxima, o tempo não mais é do que o espaço nas nossas recordações; temos de sonhar, pois só há uma coisa que torna o sonho impossível - o medo de fracassar. Por isto tudo, esperem o melhor, preparem-se para o pior e aproveitem o que vier.
NÓS VAMOS PEDIR A DEUS QUE ILUMINE O VOSSO CAMINHO TODOS OS DIAS DO ANO QUE ORA VEM.
Um abraço, Bom Ano.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

JOÃO MARQUES DE OLIVEIRA - Índia












Mensagem de João Marques de Oliveira, Soldado, com data de 16 de Dezembro de 2011. Esteve na Índia 1960/62
Assentei praça no dia 6 de Abril de 1959 no batalhão de Engenharia, no Porto, onde fiz a recruta.

Em 3 de Agosto de 1959, ainda no Regimento de Engenharia, fiz a especialidade de guarda-fios.

Em 10 de Novembro de 1959 fui colocado no regimento de Transmissões 719, em Lisboa e aqui recebi a ordem de mobilização para a Índia.

No dia 26 de Abril de 1960 embarquei no navio Niassa, em Lisboa, tendo desembarcado em 12 de Maio no porto de Mormugão.















No dia 18 de Dezembro o Estado Português da Índia - constituído pelos territórios de Goa, Damão e Diu - foi invadido pelos indianos. Da resistência à invasão resultaram 67 mortos - 45 militares e 22 indianos.
No dia 20 de Dezembro de 1961 fui feito prisioneiro (num total de cerca de 4.000 portugueses) e fui libertado no dia 13 de Maio de 1962.

Carderneta militar




O regresso à Metrópole aconteceu ainda em Maio. Embarquei no porto de Carachi no dia 15 de Maio, no navio Moçambique, e desembarquei em Lisboa no dia 30 de Maio de 1962.



Presentemente resido em Avintes, no Lugar de Campos.

domingo, 18 de dezembro de 2011

MISSA DE NATAL NA CAPELA DE NOSSO SENHOR DO PALHEIRINHO


MISSA NATALÍCIA
Amigos Combatentes de Avintes, vimos informar que, por especial deferência do nosso amigo Padre José Augusto, a missa que é celebrada todos os meses na Capela do Senhor do Palheirinho, este mês de Dezembro será celebrada no dia 23, Sexta-feira, antevéspera de Natal, às 19 horas, e que, como habitualmente, terá a participação do Grupo Coral do Senhor do Palheirinho.
Amigos, gostaríamos de ter a vossa participação e dos vossos familiares, porque não podemos esquecer que, para muitos de nós, o Senhor do Palheirinho foi o nosso interlocutor junto de Deus, nas preces que, em recolhimento ou em momentos de aflição, todos tínhamos necessidade de fazer. Mesmo que hoje digamos “que não somos homens de promessas”, a verdade é que somos homens de agradecimento. A nossa presença nesta missa de Natal será uma linda homenagem aos nossos pais, aos nossos irmãos, às nossas namoradas, a maior parte delas hoje nossas mulheres, que com certeza muitas orações fizeram ao Senhor do Palheirinho e muito lhe pediram por nós.
Para nós Combatentes será uma missa em que pensaremos nos nossos amigos e companheiros que perderam a vida na guerra e também naqueles Combatentes que entretanto também já partiram.

Guiné - Capela de Aldeia Formosa - foi inaugurada em 1974

Esta quadra de Natal era para todos nós, Combatentes em África, a época em que mais sentíamos a ausência dos nossos familiares e das nossas namoradas. Muitos de nós tínhamos a oportunidade de assistir a uma missa nas zonas em que havia Capelão Militar, muitas vezes em Capelas que nós ajudamos a construir nos quartéis, mas a maior parte não tinha essa sorte. Na maior parte dos aquartelamentos tudo essa feito para que na noite de Consoada não houvesse soldados envolvidos em operações, de forma a puderem celebrar, em conjunto, o nascimento de Cristo.

Angola - Capela de Muxaluando

 Amigos Combatentes, compareçam na próxima Sexta-feira na Capela do Palheirinho, às 19 horas, e vamos em ambiente de Paz celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Vamos também pôr em prática aquilo que sempre soubemos fazer – a caridade – pois do pouco que temos vamos dar um bocado a quem tem menos do que nós.
Contamos com a vossa presença e a todos desejamos um Santo e Feliz Natal.
Guiné - Capela de Piche em 1971


Guiné - Capela de Piche em 2010


50 ANOS DA INVASÃO DOS TERRITÓRIOS DE GOA, DAMÃO E DIU

50 ANOS DA INVASÃO DOS TERRITÓRIOS DE GOA, DAMÃO E DIU

18 de Dezembro de 1961 – À meia-noite, Nehru, Presidente da Índia, envia 45.000 soldados e 26.000 reservistas contra os 4.000 portugueses mal armados e coloca navios ao largo de Goa. Há focos de resistência e heroísmo esporádico do lado português: Cunha Aragão e a tripulação do navio “Afonso de Albuquerque”, afundado após um duelo de artilharia com navios cruzadores indianos, o Alferes Santiago de Carvalho e o Tenente Oliveira e Carmo, mortos em combate. Mas tudo acaba facilmente num dia. Morrem 45 portugueses e 22 indianos. Não foi o holocausto que Franco Nogueira, Ministro dos Negócios Estrangeiros, previra nem foi a gloriosa batalha simbólica que Salazar queria para vincar a determinação imperial. Na Índia ficam, durante seis meses, 4.000 prisioneiros portugueses.
Texto do livro “A Guerra de África 1961-1974 de José Freire Antunes”

sábado, 17 de dezembro de 2011

JOSÉ FRANCISCO CAMPOS COSTA - 17 de Dezembro de 1970



JOSÉ FRANCISCO CAMPOS COSTA – 17 de Dezembro de 1970 - Completam-se hoje,  17 de Dezembro de 2011, quarenta e um anos da morte deste Avintense, em combate, em Moçambique.


Era Soldado e fazia parte da CART 2646 do BART 2901 – Batalhão de Artilharia, aquartelado em Moçambique, tendo partido do RAP 2 - Serra do Pilar.


Era  filho do Sr. Manuel Costa (conhecido como Neca da Armanda), que trabalhava no Zé Torneiro e que era também cobrador da Associação. Residia na Rua do Outão.

Está sepultado em Avintes.

PAZ À SUA ALMA.

sábado, 26 de novembro de 2011

NOTICIA NO JORNAL "O GAIENSE"

Aos combatentes de Avintes e à população em geral:

É com muita satisfação que vemos no jornal “ O GAIENSE “ a entrevista que foi dada por 3 elementos da comissão instaladora da Associação Combatentes de Avintes para divulgação da nossa iniciativa assim como a publicitação da angariação de fundos junto da população e empresas de Avintes. O monumento será uma realidade, esperamos a colaboração de todos para erigir o “Monumento aos Combatentes de Avintes”. COMPREM O JORNAL para ajudarem a uma maior divulgação do nosso projecto. Á direcção do jornal “O GAIENSE” e ao seu jornalista PEDRO EMANUEL SANTOS que assina o artigo, queremos dizer-lhes obrigado, pela divulgação do nosso objectivo e que estaremos sempre disponíveis para qualquer iniciativa do jornal que necessite da nossa colaboração.
Renovamos os nossos agradecimentos.
A comissão


A NOTÍCIA:




AVINTES - SONHO DE TRÊS VETERANOS DE GUERRA COMEÇA A TORNAR-SE REALIDADE

Monumento vai homenagear
ex-Combatentes em África

 Juntaram esforços e decidiram perpetuar os camaradas de Avintes que, como eles, participaram na guerra colonial. O simbólico monumento já começa a ganhar forma, apesar de as ajudas chegarem somente a conta-gotas.

 PEDRO EMANUEL SANTOS

Jaime Ramos, 60 anos, Antero Santos, 61, e Manuel Monteiro, 60, foram três dos cerca de 550 filhos de Avintes forçados a participar na guerra colonial, que durou de 1961 a 1974. Desde que regressaram, há quase quatro décadas, que sonhavam homenagear os conterrâneos que pegaram em armas em África, sobretudo os que lá morreram.

Agora que estão reformados “e o tempo livre é maior” colocaram mãos à obra: vão erguer um monumento que eternizará quem saiu de Avintes para enfrentar o terror da guerra. "O objectivo é homenagear os 550 companheiros de Avintes que foram mobilizados para África, particularmente os dez que lá faleceram”, dizem a 'O Gaiense' Jaime, Antero e Manuel. Com oito metros de comprimento por dois e meio de altura, o “Muro da Vida” como os mentores lhe pretendem chamar, da autoria do Arquitecto Octávio Alves, é constituído por 80 cubos de granito, dos quais 10, o número de vítimas mortais, estarão espalhados pelo solo. Terá um custo total de 12.500 euros, valor que está a ser recolhido aos poucos junto de várias entidades e através de donativos de particulares. "Já pedimos apoio à Câmara e à Junta de Freguesia de Avintes. E também há pessoas anónimas interessadas em ajudar-nos”, contam.

O monumento irá nascer junto à Urbanização dos Pinhais Bastos, perto da rotunda da EN 222 que dá acesso ao Parque Biológico. A primeira pedra será lançada a 19 de Fevereiro, o Dia da Freguesia de Avintes. "Estamos a fazer isto com toda a dedicação e paixão, É um sonho, agora damos o passo em frente”, dizem Jaime, Antero e Manuel, os três, coincidência do destino, combateram na Guiné sensivelmente na mesma altura, entre 1972 e 1974, “Já temos identificados 220 dos 550 homens de Avintes que participaram na guerra, estamos a tentar identificá-los todos até à inauguração do monumento”. O sonho continua...


 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

OLHARES DE FORA PARA DENTRO

Artigo da autoria de José Maria Moniz, um Português que vive nos Estados Unidos, sobre a diferença como os Antigos Combatentes são tratados pela Pátria comparativamente com outros Países

A forma como os Antigos Combatentes da Guerra de Ultramar foram, e continuam a ser, tratados, continua a ser um triste retrato de Portugal. Note-se que não sou antigo combatente e nasci em 1968, pelo que, creio, ninguém me pode acusar de procurar vantagens com este assunto... A não ser o de sonhar com o respeito pelos filhos de Portugal e a decência para quem nos serviu e tudo deu.

Na verdade, considerando que esta Guerra, de 1961 a 1974, mobilizou cerca de um milhão de filhos, irmãos, maridos e pais de Portugal, que cerca de 9.000 perderam a vida a lutar por Portugal, que há um enorme número vivo a merecer reconhecimento e que há muitos, ainda, a sofrer as consequências de uma Guerra de Portugal, não posso deixar de pensar como estes homens (e mulheres) seriam tratados nos Estados Unidos (onde vivo), no Reino Unido ou em França (onde vivi). E Antigos Combatentes com deficiências permanentes (quer físicas ou psicológicas) contam-se mais de 15.000... Como não acarinhamos estes homens?
E, nem falo dos Portugueses Africanos que também serviram e que nem sequer entram para as estatísticas da Guerra do Ultramar como Portugueses... Homens e mulheres que serviram Portugal e que, por certo, ainda tiveram um fim violento por o terem feito (só na Guiné, estima-se que tenham sido assassinados sumariamente milhares de ex-combatentes - na ordem dos onze mil).

Uma das coisas mais limpas que existe nos Estados Unidos é o reconhecimento ao Antigo Combatente, que não é feito de forma belicista mas de forma respeitadora. As escolas visitam os monumentos, não para aprender as razões que levaram a lutar nem para conhecer o poder dos Estados Unidos mas, para reconhecer quem se sacrificou. As escolas e as famílias visitam os monumentos para perceber o impacto nas comunidades e nas vidas destes soldados que, mais do que tudo, eram pessoas. Quando os escuteiros colocam, todos os anos, um ramo em cada campa de um Antigo Combatente, em todos os cemitérios do país, não se promove política mas, isso sim, promove-se um simples agradecimento. No mesmo dia, a famílias inteiras vão aos cemitérios e até fazem piqueniques nos relvados das campas, para estarem em família, com todos. As crianças aprendem que as guerras custaram e custam caro e que houve boa gente que se sacrificou por elas, mesmo antes de terem nascido. Como diria um Antigo Combatente que muito estimo e respeito - “Só assim se pode incutir nos mais novos o sentimento de que pertencem a uma nação, com as suas vitórias e as suas derrotas, os seus momentos de glória e os seus períodos de desânimo. [...] Não se pode compreender um país se não se conhecer o seu passado, com tudo o que teve de bom e de menos bom. E neste aspecto, apesar da sua história ser curta, a América dá lições ao mundo, como ficou bem patente no modo como fizeram a catarse da guerra do Vietnam.”


Em Portugal tal é impensável. Nas escolas tudo é ignorado ou “revisto”. No dia a dia, o Português nem quer saber - os nossos heróis nem sequer são de louvar e, muito menos, para agradecer pois, dá trabalho e tira os olhos do umbigo. Não temos campas dos nossos soldados que morreram no Ultramar para visitar no dia 1 de Novembro e lembrar. Nem sequer um Código dos Inválidos, como o de 1929 pensado para os Combatentes da Primeira Grande Guerra, foi feito antes ou depois do 25 de Abril. Depois do 25 de Abril, falar do assunto garantia a classificação de “reaccionário” e, durante estes anos todos, o “Joaquim”, que não dorme, e o “António”, que não anda, esconderam-se nos quartos ou nos hospitais e não foram protegidos. Tal como eles, mais de 15.000 homens só puderam contar com o amor da família que, numa realidade diferente, tinha dificuldade em compreender o que passaram. Por fim, nem falo do que os sucessivos governos fizeram para não dar aos Antigos Combatentes benesses que, para mim e para os países civilizados, são básicas. E, até o monumento nacional aos Combatentes do Ultramar, em Lisboa, que foi construído por oito associações, não teve, sequer, uma comissão de honra que envolvesse os órgãos de soberania. Tal, porque o Presidente da República da altura, Dr. Mário Soares, recusou fazer parte de tal “porque era contra a Guerra de Ultramar” (!!!)... Como se os Antigos Combatentes tivessem culpa da Guerra e, claro, não lhes sendo reconhecido o serviço prestado a Portugal.


Reconheço que há melhorias: há mais homenagens, monumentos, livros não políticos e programas de televisão (a RTP tem vindo a fazer várias séries com o Joaquim Furtado) que permitem que os mais novos saibam o que se passou e se lembre o Combatente per se. Todavia, só no ano passado os Antigos Combatentes puderam desfilar no 10 de Junho, em Faro, pela primeira vez (“só” esperaram 36 anos)... Enfim, não chega. Há que fazer um mea culpa generalizado pela forma como os Antigos Combatentes foram e são tratados. Seria óptimo o nosso Estado liderar tal esforço (dado que foi o maior interessado nos serviços prestados) mas, já aprendemos, nunca o vai fazer. Por isso, tem que ser a população a fazê-lo.

Acho que, mais do que os Governos Portugueses podem fazer por quem os serviu - pois nos últimos 100 anos os Governos Portugueses não cuidaram dos seus e de quem os serviu (espero ter demonstrado) – interessa o que nós, Portugueses, podemos fazer para honrar o melhor do nosso País, que são os Antigos Combatentes.


sábado, 19 de novembro de 2011

MONUMENTO AOS COMBATENTES

JÁ COMEÇOU

Amigos e companheiros Combatentes de Avintes

Como é do vosso conhecimento, demos início à nossa campanha de angariação de fundos junto de empresas, particulares, combatentes, enfim às forças vivas de Avintes, para que possamos erigir o Monumento aos Combatentes de Avintes.

Companheiros, este início não tem sido fácil, mas como sabemos que só os sonhos são gratuitos, também sabemos que transformá-los em realidade tem um preço, e por isso corremos atrás desse sonho, que num futuro próximo se tornará realidade e do qual todos nós, combatentes em particular e a população em geral, teremos todo o orgulho e motivo de satisfação pela obra realizada.

Nesta pequena informação também queremos dizer-vos que da parte da Junta de Freguesia de Avintes, na pessoa do seu presidente Dr. Nuno de Oliveira, temos tido e sentido todo o apoio à nossa causa e a quem desde já dirigimos “Um muito obrigado”.

É nossa intenção fazer o lançamento da 1ª pedra do Monumento aos Combatentes de Avintes no dia 19 de Fevereiro de 2012, DIA DE AVINTES. Serão convidadas as entidades civis, militares e religiosas, para que a cerimónia tenha a solenidade que o Monumento exige e merece.

Amigos, daqui fazemos um apelo para que participem, apoiem, ajudem e divulguem esta nossa iniciativa para que os vindouros tomem consciência do que foi toda uma saga de uma geração, também de Avintenses, que se bateram pela Pátria.

Porque a história só é escrita pelos vencedores e nós, Combatentes de Avintes, somos uns vencedores, todos juntos vamos dizer e fazer : SE EU QUERO, EU POSSO, EU CONSIGO.

UM BEM HAJA E OBRIGADO

A COMISSÃO

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

JAIME RAMOS - O SUSTO (MEDO) DO COMBATENTE






Mensagem de Manuel da Costa Monteiro, Furriel Miliciano, que pertenceu à 1ª. Companhia do Batalhão de Artilharia 6523, Madina Mandinga, Guiné, 1973/74, com data de 2 de Novembro de 2011

Amigos Combatentes de Avintes, não sei porquê, mas NÓS, “VELHOS” COMBATENTES, SEJA QUAL FÔR O TEMA DA CONVERSA QUE ESTAMOS A TER, ACABAMOS POR FALAR SEMPRE DA GUERRA.

Bem, isto porque estando eu, Manuel Monteiro, acompanhado do Jaime Ramos e do Antero Santos em amena cavaqueira, desfiando recordações e lembrando situações, umas caricatas, outras dramáticas e perigosas, mas enfim abrindo o baú das nossas memórias, as quais só podem ser sentidas por quem as viveu e sentiu na pele, não posso deixar de descrever uma situação, que se não fosse um pouco macabra, seria satírica e motivo de boas risadas e por isso mesmo rimos a bom rir.
Um Unimog e uma Berliet a chegar a Aldeia Formosa, com o grupo de combate do Jaime Ramos, depois de terminada mais uma operação


A cena passa-se no já longínquo ano da graça de 1973, na Guiné, zona de Aldeia Formosa, onde estava colocado o nosso amigo Jaime Ramos como Furriel Miliciano e que integrava a 3ª. C.CAÇ. do BAT.CAÇ.4513.

Num final do dia 21 de Agosto de 1973 o nosso amigo é chamado ao seu Capitão e receber (em regime “de voluntariado”) instruções para sair com o seu grupo de combate e dirigir-se a CUMBIJÃ, onde estava estacionada uma Companhia de Cavalaria que nesse final de tarde, princípio de noite, tinha “embrulhado” (termo que significava que tinham sido atacados pelo IN; o IN disparou cerca de 70 granadas - 40 de canhão sem recuo e 30 de morteiro 82 - tendo as NT sofrido um morto e três feridos ligeiros). O objectivo dessa saída era para lhes levar mantimentos e repor o stock de munições e também para transportar o capelão militar (padre) para fazer o levantamento do corpo de um soldado que tinha perdido a vida em consequência do dito ataque e trazê-lo para Aldeia Formosa, de onde no dia imediato seria enviado, de avião ou helicóptero, para Bissau. Era o soldado Fausto Costa e pertencia à CCAV 8351 – Os Tigres de Cumbijã.

Aquartelamento de COLIBUIA - na estrada Mampatá - Cumbijã - Nhacobá

Bem, lá segue o Jaime com os seus soldados numa Berliet (camião) a caminho de CUMBIJÃ, picada fora. Lá chegados, feita a entrega das munições e dos mantimentos, o capelão procede ao levantamento do corpo; depois o corpo é metido num saco, colocado numa maca de campanha e posto na Berliet. Está na hora do regresso, seguem em direcção a Aldeia Formosa, pela picada que tem mais buracos que um queijo suíço, motivo para que todos os ocupantes andassem aos saltos como milho de pipocas. O Jaime vinha sentado na parte traseira da viatura de costas para a cabina, preparado para saltar se fossem vítimas de uma emboscada, quando a certa altura sente um pé ferrado nas suas costas. Irritado e incomodado, vira-se para trás, pensando que era um colega e então, nesse momento, ecoa um grito de terror e angústia pois repara que o pé nas suas costas era um pé do morto que, com os solavancos, tinha-se deslocado para trás dele.
Conclusão - um pequeno pé, mesmo sendo dum morto, faz tremer um homem mais que uma combate com o IN.

O grupo de combate do Jaime Ramos

Amigos Combatentes, aqui fica este trecho das nossas vivências em África porque a "HISTÓRIA SÓ É ESCRITA PELOS VENCEDORES"

Um abraço e bem hajam, Monteiro

sábado, 5 de novembro de 2011

DOIS AVINTENSES EM ALDEIA FORMOSA

Mensagem de Manuel da Costa Monteiro, Furriel Miliciano, que pertenceu à 1ª. Companhia do Batalhão de Artilharia 6523, Madina Mandinga, Guiné, 1973/74, com data de 2 de Novembro de 2011

Aldeia Formosa foi, no período de 1972/74, um centro nevrálgico no Sul da Guiné. Ali se encontraram dois amigos – camarigos, tratamento dado aos Combatentes da Guiné – o Antero Santos e o Jaime Ramos.

Aldeia Formosa - vista aérea

Costuma-se dizer e por vezes com certa razão que alguém que escreve sobre os amigos, vai enaltecer com loas e mentiras certos feitos que foram protagonizados por eles, não é este o caso, pois o que eu quero com este escrito e o que pretendo ao falar de dois amigos/camarigos é tão só que fique registado para os vindouros, contribuindo com pequenas estórias para a história do que foi a saga de três gerações de portugueses que se bateram com coragem e determinação para defenderem o que à data era Portugal, pois Portugal ia do Minho a Timor, e das quais eles fizeram parte e fazem – uma vez Combatente, Combatente toda a vida.


Pois bem, dois amigos que o destino quis que se juntassem em Aldeia Formosa, lugar onde estava o Antero, com o posto de Furriel Miliciano, enquadrado na C.CAÇ. 18 (Companhia Africana) desde o início de Janeiro de 1973 depois de ter estado durante um mês em Bolama – a fazer o IAO – e sete meses em Empada, na C.CAÇ. 3566 – Os Metralhas, e onde chegou o Jaime, também com o posto de Furriel Miliciano, em Abril desse mesmo ano, fazendo parte da 3ª C.CAÇ. do B.CAÇ 4513.
Muitas peripécias eles contam, algumas delas angustiantes, para quem como eu, que estando numa zona 100% operacional (Madina Mandinda, na zona de Gabu, leste da Guiné), tive a felicidade de nunca cair numa emboscada ou de emboscar o IN, nunca tive qualquer contacto com o IN, nunca soube o que era um ataque ao aquartelamento nem o que era um homem pisar uma mina.
Verifico que para muitos dos Camarigos e para estes em particular, que a comissão de serviço foi dura e hoje compreendo como é difícil falarem sobre o que lá viveram, embora aos poucos eles vão abrindo o seu bloqueamento, ao seu passado/vivido, principalmente com outros camarigos. Agora começo a compreender o que é o stress de guerra, mal que infelizmente ainda não é reconhecido como doença provocada pela guerra; centenas ou milhares de homens vão padecendo com todas estas mazelas, não merecendo qualquer apoio do Estado.

Rio Corubal - local onde se fazia a "cambança" - Aldeia Formosa/Saltinho - do lado de Paté Embaló

É mera coincidência, mas os nossos Camarigos Antero e Jaime tinham a especialidade de Atiradores de Infantaria e o curso de Minas e Armadilhas (especialidade em que um homem só se engana duas vezes, a primeira e a última) e como tal, o montar campos de minas, que tiveram de desmontar muitos meses depois, foram situações de risco bastante elevado que tiveram de cumprir.
Não chegava estarem longe de todos os seus familiares e amigos e tinham de conviver no seu dia a dia com situações desagradáveis e quiçá perigosas.
O Antero comandou o seu grupo de combate (porque o Alferes havia sido deslocado para um Pelotão de Nativos) e tinha de ser a figura de comandante, juiz, apaziguador, branco no grupo de vinte e seis negros e que acima de tudo tinha de ter a admiração deles; essa admiração foi sendo conquistada ao longo dos meses com atitudes de perseverança e ele tudo isto conseguiu pois, tal como outros, ele pôs em prática o ditado que diz FÁCIL É RECONHECER OS ERROS DOS OUTROS, DIFÍCIL É RECONHECER OS NOSSOS.

C.Caç. 18 - Grupo de combate do Antero (concentração dos soldados para mais uma saída para o mato)

O Jaime também não teve uma vida fácil pois fez parte de um Companhia que chegou a Aldeia Formosa num dos períodos mais difíceis da região Sul, em que se estava a construir uma estrada que iria penetrar em santuários do PAIGC (Salancaur Cul, Unal, Chin Chin Daril) e todos os dias tinha de se dar protecção à frente de trabalhos. Ao longo desta estrada as nossas tropas caíram em muitas emboscadas e quase todos os dias tinha de se proceder ao levantamento ou à neutralização de minas que eram colocadas durante a noite. O Jaime também teve a experiência de estar várias vezes debaixo de fogo IN, felizmente sem ter sofrido mazelas físicas e a sua Companhia teve bastantes feridos, principalmente no período de Abril a Julho de 73, tendo participado na operação BALANÇO FINAL em que se procedeu à tomada de Nhacobá (povoação controlada pelo PAIGC) e de que resultaram 17 mortos nas forças do IN, além da apreensão de algum armamento.
Resultados da Operação BALANÇO FINAL

A todos os Camarigos eu digo que a História (e nós fizemos História) é depósito de acções, testamento do passado, exemplo e aviso para o presente e advertência para o futuro e acreditem que é com orgulho que eu falo e escrevo, porque tenho a força moral de falar da Guerra de África porque eu estive lá, vivi-a!

Aldeia Formosa - aquartelamento

terça-feira, 1 de novembro de 2011

DIA DE TODOS OS SANTOS


É neste dia que mais dedicamos os nossos pensamentos e orações aos nossos entes queridos e conhecidos (especialmente aos Combatentes) que já deixaram esta vida. Deles guardamos o que de melhor nos deixaram, pois como tudo na vida, "O TEMPO VAI, SÓ NÃO LEVA O QUE A MENTE GUARDA, PORQUE VAMOS LEMBRAR OS VOSSOS SORRISOS PARA SEMPRE".
Amigos neste dia é tradição a deposição de flores nas lages dos familiares, amigos, Combatentes, pois elas simbolizam a BELEZA E A CONTINUIDADE, porque: ELAS TAL COMO AS PESSOAS, MORREM, MAS DEIXAM CÁ AS SEMENTES PARA OUTRAS FLORES NASCEREM, ASSIM COMO AS PESSOAS DEIXAM OS SEUS DESCENDENTES PARA DAR SEGUIMENTO À VIDA.
Para todos os Combatentes de Avintes e familiares dos já falecidos, um abraço e lembrem-se que: VIVER É A ARTE DE SORRIR QUANDO A VIDA NOS DIZ NÃO.

AVINTENSES que perderam a vida, ao serviço da Pátria, durante a Guerra de África:

04/08/1961 - Joaquim de Sousa Ferreira, em Angola
05/09/1965 - José Rocha da Silva, na Guiné
23/06/1967 - Francisco Monteiro de Almeida, na Guiné
20/10/1968 - Manuel Ferreira de Almeida, na Guiné
01/07/1970 - António Manuel Ribeiro Ferreira, em Moçambique
17/12/1970 - José Francisco Campos Costa, em Moçambique
15/07/1972 - Idílio da Costa Moreira, na Guiné
26/09/1972 - Joaquim da Costa Moreira, na Guiné
02/01/1973 - Joaquim da Costa Gonçalves, em Moçambique
10/07/1974 - António dos Santos Sousa, em Moçambique

O Joaquim da Costa Gonçalves está sepultado em Valbom.
O Francisco Monteiro de Almeida está algures na Guiné (desaparecido em combate).
Os outros estão sepultados em Avintes.
PAZ ÀS SUAS ALMAS


4 de Agosto de 1961 - Joaquim de Sousa Ferreira


5 de Setembro de 1965 - José Rocha da Silva


23 de Junho de 1967 - Francisco Monteiro de Almeida


20 de Outubro de 1968 - Manuel Ferreira de Almeida

1 de Julho de 1970 - António Manuel Ribeiro Ferreira


17 de Dezembro de 1970 - José Francisco Campos Costa


15 de Julho de 1972 - Idílio da Costa Moreira

26 de Setembro de 1972 - Joaquim da Costa Oliveira


 2 de Janeiro de 1973 - Joaquim da Costa Gonçalves

10 de Julho de 1974 - António dos Santos Sousa
Igreja Matriz de Avintes - Padroeiro S. Pedro



A comissão
Manuel Monteiro, Antero Santos, Jaime Ramos