Mensagem de Francisco Lopes dos Santos, Soldado condutor da CCAÇ 94, Negage, Ambriz e outros, Angola , 1961/63, com data de 20 de Abril de 2012
O CHICO RATO
Depois de mais um
fim de semana a recarregar baterias, aproveitando para namoriscar, recolher
notícias da “Terra”, rever a família e amigos,
mas sem deixar de ir ao Parque Joaquim Lopes encher o “EGO” pelo
brilhantismo que dava o meu “ Avintes” e motivos de
conversa para toda a semana. Estávamos então no dia 18 de Abril de
1961, e toca a levar o “farnel” que tão
carinhosamente a minha MÃE preparava com os poucos
recursos que tinha, mas com todo o AMOR que me dava.
Segui a pensar no próximo fim de semana dali a 15 dias, como habitualmente.
A
preocupação começava a instalar-se nas famílias dos militares de então; tinha
rebentado a “Guerra” em Angola e andávamos todos com o
coração nas mãos, sem saber como, porquê, e o que teria originado aquela
situação. A ignorância imposta pelo regime à sociedade, fazia-nos crer que
altos valores Patrióticos nos obrigavam a deslocar para defender a PÁTRIA nas Províncias
Ultramarinas, o que impôs à sociedade civil um clima de grande
preocupação pelos seus FILHOS.
Saco cheio há que
fazer o percurso até Braga onde me iria apresentar no Quartel das Carvalhas
para continuar o meu serviço militar. Preparado para relatar os acontecimentos
desse fim de semana, eis que reparo que muitos colegas já tinham vestida a
farda amarela que se recebia quando éramos mobilizados; veio a noticia que mais
temia - chegou um 1º. Cabo com uma mensagem dizendo que me tinha de dirigir de
imediato ao Regimento de Infantaria 8, também em Braga para que me fosse
distribuída a farda amarela. Estava definitivamente mobilizado para Angola e o
navio zarpava do Tejo logo no dia 21. Depois de me ser distribuído o fardamento
pedi ao meu Comandante para me deixar vir a casa porque os meus familiares e a
namorada não sabiam de nada e eu não me tinha despedido deles.
Ele respondeu: - daqui não sai ninguém;
- Saí há pouco de casa – disse eu;
- Se eu te deixar ir, tu voltas?
- Volto sim, meu Comandante – respondi;
Então autorizou-me a sair.
Havia que arranjar
forma de chegar o mais rápido possível a casa; como? Pus-me à boleia e lá
apareceu a solidariedade dos Portugueses - apareceu um carro de que nunca
mais esqueci a marca – um SIMCA ARONDE -
e o condutor fez o favor de me trazer até ao Porto e ainda me ofereceu 2,50
escudos (vinte e cinco tostões) para pagar o bilhete da camioneta do Porto para
Avintes.
Chegado a Avintes,
saio na paragem que havia junto ao Café Guarani; era
habitual os jovens ficarem no passeio do Cabra, depois do trabalho, quase em
frente ao café; um deles era o Samuel Borges que, ao ver-me de farda amarela, se
dirigiu de imediato a casa dos meus pais para os avisar de que eu estava a
chegar e que eu ia para Angola.
Quando cheguei a
casa só ouvia gritos de
desespero da minha mãe.
No dia 20, tal como
havia prometido ao Comandante, voltei a Braga para seguir para Lisboa, tendo
embarcado na manhã do dia 21 de Abril de 1961 no navio “Niassa”.
Daí para a frente,
em quase todos os navios que seguiram para África, seguiam jovens de Avintes.
................
DOIS ANOS DEPOIS
No dia 2 de Maio de
1963 chego a Avintes, perto da meia-noite e novamente volto a encontrar o
Samuel Borges que, ao ver-me, de novo volta a dirigir-se em direcção a
casa de meus pais, desta vez a levar a boa nova de que eu acabava de chegar são e
salvo.
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