Mensagem de Ilídio Fernando Silva Pedrosa Rocha, Soldado Condutor-Auto, CCAÇ 797, Guiné, 1965/67, em Tite e Nhacra.
Assentei
praça no dia 20 de Julho de 1964, no CICA 1, Centro de Instrução e Condução
Auto, no Porto.
Fiz a
especialidade de Condutor Auto no RI 6 – Regimento de Infantaria, na Senhora da
Hora, em 18 de Outubro de 1964.
Em 6 de
Dezembro de 1964 fui colocado no Regimento de Infantaria 1, na Amadora e fui
mobilizado.
Na zona
de Mafra e da Serra de Sintra fiz o IAO – Instrução de Aperfeiçoamento
Operacional.
Passei
então a integrar a Companhia de Caçadores 797 que recebeu o nome de “Os
Camelos” e que tinha como divisa “O inimigo teme sempre quem não o mostrar
temer”.
Em 23 de
Abril de 1965 embarquei no paquete “Uíge” com destino à Guiné, fazendo parte da
CCAÇ 797, onde cheguei no dia 28. Neste mesmo dia embarquei numa LDM – lancha
de desembarque médio – com destino a Tite. A minha companhia foi render a CCAÇ
423. Estive nesta localidade durante treze meses. Como na zona de Tite o
terreno tinha muitas minas anti-carro, não exercia as funções de condutor;
durante este tempo tive de exercer actividade como caçador especial integrando
o 3º. Grupo de combate nas operações da Companhia.
A bordo de uma LDM no Rio Geba |
Em Tite a
actividade operacional era altamente perigosa, mas a CCAÇ 797 procurou não
deixar o IN abusar e sofremos bastante, tendo felizmente saído bem desta
situação. Neste período a Companhia efectuou 275 emboscadas, 211
patrulhamentos, 17 cercos e operações de limpeza de povoações, 22 golpes de mão
e 17 operações conjuntas com outras Companhias e com grupos de para-quedistas. Destruímos
ao In 25 acampamentos e 28 tabancas. Segundo os números da unidade, percorremos
5.722 quilómetros a pé através das matas, bolanhas e tarrafos.
O filtro de água no quartel de Tite |
Felizmente
“Roncos” (operações com sucesso) não faltaram, tendo capturado ao IN 50 peças
de armamento variado, com destaque para as acções na região de Gã Saúde e Jufá
em que capturámos duas metralhadoras, dois roquetes RPG 2 e 28 espingardas.
Apesar de
todos os cuidados acabaram por perder a vida em combate durante a comissão oito
colegas e tivemos um total de 53 feridos.
Não posso
esquecer a memória dos nossos mortos:
12/08/1965
- Júlio Lemos Pereira Martins
12/08/1965
– Inácio de Freitas Ferreira
30/09/1965
– Aníbal Alves Pires
18/10/1965
– Diogo Amaro Neves
01/11/1965
– Manuel António Amaral Nobre
18/03/1966
– Alberto Tibúrcio da Silva
11/05/1966
– Juidé Mané
17/06/1966
– Jorge Augusto Maria Brás
Que
descansem em paz.
Em 16 de Maio de 1966 mudamos provisoriamente para a zona de
Bissau, para o célebre quartel conhecido como o 600, junto ao Palácio do
Governador, tendo ficado a aguardar o próximo quartel que nos seria destinado.
O Unimog que habitualmente conduzia mas missões de patrulhamento |
Em 3 de
Junho de 1966 fomos colocados em Nhacra e no dia 6 assumimos a responsabilidade
deste Subsector com destacamentos em Safim e em S. João de Landim, com a missão
de tomar conta das estradas que ligavam a Bissau. Missão nada fácil e uma
grande responsabilidade sobre todos nós. A minha missão passou a ser a de fazer
patrulhamentos, já como condutor (a minha especialidade), nas picadas, tendo um
raio de acção de trinta quilómetros em toda a cintura da capital, incluindo o
Aeroporto de Bissalanca.
Nesta
zona, perto da capital, o IN não se mostrava, a sua actividade era silenciosa,
mas tivemos de manter a mesma pressão que exercemos em Tite – não mostrar medo
nem dar descanso.
Junto da nossa enfermaria móvel |
Em
Janeiro de 1967 constou que íamos mudar de novo de quartel mas acabou por vir
uma boa notícia – o regresso à Metrópole estava para breve. Fomos rendidos pela
CCAÇ 1487 no dia 16. No dia 20 de Janeiro embarcámos de novo no paquete “Uíge”
que nos havia levada para a nossa missão foi o mesmo que nos trouxe de volta.
Chegámos no dia 26 de Janeiro, com o dever cumprido.
De
referir que a CCAÇ 797 foi comandada pelo Capitão de Infantaria Carlos Fabião; como Comandante da CCAÇ 797 foi condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar com Palma. Após o 25 de Abril foi nomeado Governador Geral da Guiné; faleceu em 2 de Abril de 2006.
“Àqueles que fizeram do
Camelo um símbolo e que em torno desse símbolo se uniram e constituíram uma
força coesa para servir a Pátria, com generosidade, coragem e determinação, nas
Portuguesas terras da Guiné, o muito obrigado daquele que teve a honra e o
orgulho de os comandar”. – Capitão Carlos Fabião
Sem comentários:
Enviar um comentário