quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

JOSÉ FERNANDO DA SILVA OLIVEIRA - QUININHO - Guiné









Mensagem de José Fernando da Silva Oliveira, Soldado atirador da CART 1647 do BART 1904, Quinhamel, Bula e Binar, Guiné, 1967/68, com data de 22 de Fevereiro de 2011 (conhecido como Quininho)

Assentei praça em Espinho no dia 2 de Agosto de 1966.

Fiz a especialidade no RAP 2, na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia e fui mobilizado para a Guiné. Era o soldado 2269. Fiz parte da Companhia de Artilharia 1647. Esta Companhia fazia parte do Batalhão de Artilharia 1904 que tinha como lema “Firmes e Generosos” e de que era comandante o Tenente-Coronel Fernando da Silva Branco.


Em Bula - em 1967

A minha companhia tinha como comandante o Capitão Fernando Galriça; do meu pelotão faziam parte o Alferes Garcia e os Furriéis Coelho e Henrique (ambos madeirenses).
 
Faziam parte da minha Companhia três avintenses: o António Saltão (que vivia em Campos), o Luís Castro Louro (de Pousada) e o João Félix (da Igreja, já falecido).


30/06/1968 - Vista do quartel de Binar

No dia 11 de Janeiro de 1967 embarquei no navio UIGE e cheguei à Guiné no dia 18.

Inicialmente fiquei num quartel conhecido como o 600, em Santa Luzia, Bissau. Depois passámos por Quinhámel, Bula e Binar. Em Binar estive durante dezanove meses. Sofremos vários ataques ao aquartelamento mas conseguimos ser sempre bastante firmes e generosos. Participei em muitas operações e sofremos várias emboscadas.


Material apreendido ao inimigo na Mata de Choquemone em 23/12/1967

A Companhia de Artilharia 1647 além de vários feridos, sofreu três mortos:

Armando Bernardo Barbosa, 1º Cabo atirador, era natural de Massarelos e residia em Campanhã, morreu em combate na zona de Bula, no dia 9 de Agosto de 1967, durante a Operação Bolo-Rei, na Mata de Choquemone. Não foi possível recuperar o seu corpo.

Agostinho Ferreira de Sousa, Soldado atirador, era natural de Frazão, Paços de Ferreira, onde se encontra sepultado; faleceu em combate no dia 27 de Dezembro de 1967;

Manuel Dias Aldeia, Soldado atirador, que era de S. Pedro da Cova onde se encontra sepultado; morreu vítima de acidente no dia 4 de Outubro de 1968, na caserna do quartel de Bula devido ao rebentamento de uma granada na bazuca (quando um soldado metia uma granada na bazuca, deixou-a cair ao chão).

Foram momentos muito tristes mas a verdade é que nunca esquecerei nenhum deles.


Um grupo de amigos

Embarquei para a Metrópole no dia 31 de Outubro de 1968 e cheguei a Lisboa no dia 6 de Novembro.

O tempo total de tropa foi de 28 meses.
 
 
Também nos divertíamos - no "restaurante"  a servir o Furriel



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ANTÓNIO MANUEL SOUSA DE CASTRO - Guiné





Mensagem de António Manuel Sousa de Castro, 1º Cabo radiotelegrafista da CART 3494 do BART 3873, Xime e Mansambo, Guiné, 1972/74, com data de 11 de Fevereiro de 2011

Em primeiro lugar quero enaltecer e louvar o trabalho pela divulgação do percurso militar de todos os ex-combatentes de Avintes que participaram nas guerras coloniais, ou do Ultramar, em prol daquilo a que muitos chamávamos defender a nossa Pátria. Bem-haja!
- Em segundo lugar, dizer, que não sendo natural de Avintes, sinto-me tão ou mais Avintense como todos os naturais. Meu pai nasceu em Avintes, chamava-se João Teixeira de Castro, tinha a profissão de tintureiro e morava-mos na Rua 5 de Outubro, nº 157. Frequentei a escola primária do Magarão. Concluí a 4ª classe do ensino primário em 11 de Julho de 1961.
Em 1963 fomos viver para Barroselas, Viana do Castelo, de onde minha mãe era natural. Trabalhei, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, tendo passado por diversas categorias profissionais, reformei-me como Técnico Fabril em 15 de Dezembro de 2008. Casei por estas bandas e resido na zona de Viana do Castelo, por isso, sinto-me ligado a essa maravilhosa terra e suas gentes de alma e coração.
Nasci em 15/12/1950, em Caminha, sou casado, e tenho três filhos.

PERCURSO MILITAR
Fui incorporado em 04MAI71, no R.I. 8 (Regimento de Infantaria 8) - Braga, como recruta.
Fiz a especialidade no RTm (Regimento de Transmissões), Porto, de 04JUL71/NOV71, promovido ao posto de 1º cabo em 07NOV71. Mobilizado em Dezembro de 1971 para servir no Ultramar nos termos da alínea c) do artº.20 do Dec. 49107 de 25JUN69
Participei na guerra colonial na Guiné, embarquei em 27/01/1972 nos TAM (transporte aéreo militar), com destino a Bissau para fazer um estágio da especialidade (radiotelegrafista) no quartel de transmissões com a duração aproximada de um mês, findo o qual viajei por via aérea num “Dakota” até Bafatá e daí em viatura militar com destino ao Xime, na zona leste, para me juntar à minha Companhia, CART 3494 (Companhia de Artilharia) do BART 3873 (Batalhão de Artilharia) que tinha embarcado em Lisboa no N/M “NIASSA” em 22 de Dezembro de 1971 após adiamento de 4 dias. Regressei por ter terminado a comissão de serviço em 03/04/1974 nos TAM. Passei à disponibilidade em 03MAI74.

ACTIVIDADE MILITAR
A actividade da CART 3494 foi de certo modo muito intensa, sofremos em 27 meses de comissão 18 flagelações, dois deles com foguetões de 122mm, sem causarem baixas, muitos contactos com o IN resultando alguns mortos e muitos feridos, alguns deles de bastante gravidade de tal modo que tiveram de ser evacuados para o continente. Devido à baixa moralização da Companhia fomos transferidos para Mansambo em Março de 1973.

OS MORTOS DA UNIDADE
MANUEL DA ROCHA BENTO
Naturalidade: Galveias, Ponte de Sor
Furriel Miliciano da CART3494/BART3873
Data: 22-04-1972
Local de sepultura: Galveias (morto em combate)•

ABRAÃO MOREIRA ROSA
Naturalidade: Póvoa de Varzim
Soldado da CART3494/BART3873
Data: 10-08-1972
Local Sepultura: não reconhecida (desaparecido)•

JOSÉ MARIA DA SILVA E SOUSA
Santiago de Bougado, Trofa
Soldado da CART3494/BART3873
Data: 10-08-1972
Local Sepultura: Bambadinca

MANUEL SALGADO ANTUNES
Naturalidade: Vila Nova de Famalicão
Soldado da CART3494/BART3873
Data: 10-08-1972
Local de Sepultura: não reconhecida (desaparecido)•

MUSSA CANDÉ
Naturalidade: Darsalame – Xitole, Bafatá
Soldado Milícia do Pelotão de Milícias 308/CART3494
Data: 11-07-1973
Local de Sepultura: Mansambo

MUFAMARÁ SANÉ
Naturalidade: Cambana - Bambadinca
Soldado Milícia do Pelotão de Milícias 309/CART3494
Data: 07-03-1972
Local de Sepultura: Não conhecida•

DICOR EMBALÓ
Naturalidade: Aliu Zai – Bambadinca, Bafatá
Soldado Milícia do Pelotão de Milícias 309/CART3494
Data: 19-07-1972
Local de Sepultura: não conhecida•

BLAQUE NANAU
Naturalidade: Calacunda - Porto Gole, Mansoa
Soldado milícia do Pelotão de Milícias 310/CART3494
Local de Sepultura: Enxalé

O BLOGUE DA MINHA COMPANHIA É:
XIME - 1972 - vista parcial do quartel

sábado, 5 de fevereiro de 2011

FRANCISCO LOPES DOS SANTOS - Angola





O PRIMEIRO AVINTENSE A PARTIR PARA A GUERRA DE ÁFRICA



Mensagem de Francisco Lopes dos Santos, Soldado condutor da CCAÇ 94, Negage, Ambriz e outros, Angola, 1961/63, com data de 4 de Fevereiro de 2011

No dia 4 de Abril de 1960 assentei praça na Póvoa de Varzim – Manutenção Militar, onde fiz a recruta e segui para o CICA 1, no Porto, tendo tirado a especialidade de condutor.
Fui mobilizado para Angola no dia 18 de Abril de 1961, tendo embarcado no “Niassa”, na sua primeira viagem, três dias depois – 21 de Abril; fazia parte da CCAÇ 94; O segundo Comandante de Companhia era o Alferes Santos Clara, nosso conterrâneo, hoje Coronel na situação de reserva. Chegamos a Luanda no dia 2 de Maio.
No dia 13 de Maio partimos para o mato, em direcção a Negage, vindo a ocupar ainda as povoações de Puri, Macocola, Sanza, Pombo, Quimbele, Rio Zaza (zona em que os nativos ainda praticavam o canibalismo).
Tivemos vários mortos e feridos, mas hoje quero recordar apenas a morte do Furriel Miliciano Faria, em combate. Os meios na época eram bastante reduzidos e tivemos de andar com o corpo deste nosso camarada de armas durante três dias numa viatura. Acabámos por abrir uma sepultura em Caiongo e depositámos o corpo embrulhado e amarrado entre duas portas a fazer de caixão. Passados oito dias, no regresso a Negage, voltámos a Caiongo e verificámos que a sepultura tinha sido aberta pelos terroristas e só lá restavam os ossos; o corpo tinha sido comido.
No segundo ano da minha comissão estive na região de Ambriz, Ambrizete e Bessa Monteiro.
O regresso aconteceu no dia 21 de Abril de 1963, tendo embarcado no navio “Vera Cruz”; chegámos a Lisboa no dia 2 de Maio de 1963. Hoje, quando recordo o dia do meu regresso a Avintes, sinto que fui recebido como sendo um grande Português.
Infelizmente durante a minha comissão, a nossa freguesia já tinha sofrido um morto, precisamente em Angola: o Joaquim de Sousa Ferreira, que era de Espinhaço.
Nos últimos seis anos, aquando da realização do nosso encontro de combatentes de Avintes, sinto um enorme orgulho por transportar a Bandeira Nacional.


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

GUERRA DE ÁFRICA

Combatentes Avintenses

Faz hoje, 4 de Fevereiro, que no ataque à esquadra de Luanda, morreram sete portugueses e cerca de quarenta angolanos. Faz hoje 50 anos que começou aquele que é o acontecimento-chave da segunda metade do século XX português. Com o seu balanço final de mais de 800.000 homens mobilizados, de perto de 9.000 mortos e de cerca de trinta mil feridos e estropiados (só na Metrópole), a Guerra de África de 1961 a 1974 é a mais traumática experiência vivida pela nossa sociedade contemporânea.
O número total de mortos foi de 8.831 (em combate 4.207, em acidentes com armas de fogo 785, em acidentes de viação 1.480 e por outras causas 1.998). Os portadores de deficiência permanente totalizaram 15.507
Embora esquecida pelos nossos sucessivos governantes, a Guerra deixou marcas profundas em Portugal. Muitas dessas marcas ainda permanecem presentes na memória silenciosa de todas as famílias. É verdade que as novas gerações já pouco se referem à Guerra de África mas a maioria dos que nela combateram continua entre nós, carregando quase sempre em silêncio o fardo de recordações dolorosas.
Devemos contrariar este estado das coisas e afirmar que fomos combatentes; vamos dar um impulso ao nosso blogue; cada um de nós deve participar descrevendo o percurso feito durante o serviço militar e, abrindo um pouco a sua memória, relatando algumas dos episódios que viveu em África.
Não podemos deixar de recordar os combatentes de Avintes, mortos durante a Guerra de África e que continuam sempre presentes na nossa memória:

"Defendeste a Pátria, cumpriste o teu dever; a Pátria foi ingrata, fez o que costuma fazer” (Padre António Vieira, 1608/1697)



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CONVÍVIO DE 2010

Algumas fotografias do desfile e das cerimónias realizadas no cemitério - parte do convívio de 2010, realizado no dia 24 de Abril (fotos cedidas por FOTO FONSECA, de Avintes)

Concentração no Largo Escultor Henrique Moreira
 

Desfile dos combatentes até à Igreja de Avintes
 

Frente do desfile
 

No adro da Igreja
 

Saída da Igreja depois de ter sido celebrada missa
 

O Dr. J.C.Magalhães (serviço militar em Angola, como médico)
proferiu algumas palavras, no cemitério, recordando os que partiram
 

O porta-bandeira Francisco Lopes dos Santos, 
primeiro avintense a embarcar para a guerra
 

Cerimónia do toque de homenagem aos mortos (pela Fanfarra de Lever)
 

Deposição de uma coroa de flores no jazigo dos combatentes