quinta-feira, 10 de novembro de 2011

JAIME RAMOS - O SUSTO (MEDO) DO COMBATENTE






Mensagem de Manuel da Costa Monteiro, Furriel Miliciano, que pertenceu à 1ª. Companhia do Batalhão de Artilharia 6523, Madina Mandinga, Guiné, 1973/74, com data de 2 de Novembro de 2011

Amigos Combatentes de Avintes, não sei porquê, mas NÓS, “VELHOS” COMBATENTES, SEJA QUAL FÔR O TEMA DA CONVERSA QUE ESTAMOS A TER, ACABAMOS POR FALAR SEMPRE DA GUERRA.

Bem, isto porque estando eu, Manuel Monteiro, acompanhado do Jaime Ramos e do Antero Santos em amena cavaqueira, desfiando recordações e lembrando situações, umas caricatas, outras dramáticas e perigosas, mas enfim abrindo o baú das nossas memórias, as quais só podem ser sentidas por quem as viveu e sentiu na pele, não posso deixar de descrever uma situação, que se não fosse um pouco macabra, seria satírica e motivo de boas risadas e por isso mesmo rimos a bom rir.
Um Unimog e uma Berliet a chegar a Aldeia Formosa, com o grupo de combate do Jaime Ramos, depois de terminada mais uma operação


A cena passa-se no já longínquo ano da graça de 1973, na Guiné, zona de Aldeia Formosa, onde estava colocado o nosso amigo Jaime Ramos como Furriel Miliciano e que integrava a 3ª. C.CAÇ. do BAT.CAÇ.4513.

Num final do dia 21 de Agosto de 1973 o nosso amigo é chamado ao seu Capitão e receber (em regime “de voluntariado”) instruções para sair com o seu grupo de combate e dirigir-se a CUMBIJÃ, onde estava estacionada uma Companhia de Cavalaria que nesse final de tarde, princípio de noite, tinha “embrulhado” (termo que significava que tinham sido atacados pelo IN; o IN disparou cerca de 70 granadas - 40 de canhão sem recuo e 30 de morteiro 82 - tendo as NT sofrido um morto e três feridos ligeiros). O objectivo dessa saída era para lhes levar mantimentos e repor o stock de munições e também para transportar o capelão militar (padre) para fazer o levantamento do corpo de um soldado que tinha perdido a vida em consequência do dito ataque e trazê-lo para Aldeia Formosa, de onde no dia imediato seria enviado, de avião ou helicóptero, para Bissau. Era o soldado Fausto Costa e pertencia à CCAV 8351 – Os Tigres de Cumbijã.

Aquartelamento de COLIBUIA - na estrada Mampatá - Cumbijã - Nhacobá

Bem, lá segue o Jaime com os seus soldados numa Berliet (camião) a caminho de CUMBIJÃ, picada fora. Lá chegados, feita a entrega das munições e dos mantimentos, o capelão procede ao levantamento do corpo; depois o corpo é metido num saco, colocado numa maca de campanha e posto na Berliet. Está na hora do regresso, seguem em direcção a Aldeia Formosa, pela picada que tem mais buracos que um queijo suíço, motivo para que todos os ocupantes andassem aos saltos como milho de pipocas. O Jaime vinha sentado na parte traseira da viatura de costas para a cabina, preparado para saltar se fossem vítimas de uma emboscada, quando a certa altura sente um pé ferrado nas suas costas. Irritado e incomodado, vira-se para trás, pensando que era um colega e então, nesse momento, ecoa um grito de terror e angústia pois repara que o pé nas suas costas era um pé do morto que, com os solavancos, tinha-se deslocado para trás dele.
Conclusão - um pequeno pé, mesmo sendo dum morto, faz tremer um homem mais que uma combate com o IN.

O grupo de combate do Jaime Ramos

Amigos Combatentes, aqui fica este trecho das nossas vivências em África porque a "HISTÓRIA SÓ É ESCRITA PELOS VENCEDORES"

Um abraço e bem hajam, Monteiro

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